terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mudança de estado

Observo de longe, pois meu lugar o é.

Aqui chove. Aqui faz frio. Os pés gelam. Lá eu não sei. Todo final de tarde faz sol. O calor raxa.

Aqui o tempo está cinza. Lá não há nuvens.

Aqui eu tenho lembranças. Lá eu tenho passagem.

Lá eu durmo. Aqui eu acordo.

Breve e extenso.

Aqui e lá, poderíamos muito, em muitos universos que existem em só dois lugares: os nossos. E nos renderíamos à poesia se parte de nós não fosse prosa: a minha.

Aqui o que não há de nuvens, há de raios quentes, o que não há de pés gelados e pisos brancos, há de pés que pisam na ardósia verde escuro. O que não tem de cinza, tem de vermelho. O que não tem de gatos, tem de pessoas.

Do que não se sabe de cá, quando se está lá, se sente na parte de nós que não se determina no tempo e no espaço e que não importa de qual aqui e de qual lá estamos falando.

De tudo que eu mais quero lá, eu tenho em qualquer lugar, mas em um só estado: o estado nós dois.

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